terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Dia 25 - Encanto infantil

Habari, rafiki wangu!

Fisicamente, tenho que dizer que nao estou na minha melhor condicao. Desde ondem tenho sentindo muita dor de cabeca, mas nao e’ igual ‘a dor da enxaqueca. Parece mais com uma gripe. Alem disso, tenho sentido dor no estomago e ontem tive febre ‘a noite. Hoje acordei ainda com dores, e estava disposta a passar a manha na cama. Mas ai’ venho um convite, e decidi nao recusar.

Hebrom, um dos missionarios daqui, me chamou para participar com ele de um trabalho voluntario que ele desenvolve semanalmente. Topei ir mesmo sem saber pra onde era. So’ depois descobri que se tratava de um orfanato! Foi ai’ que fiquei ainda mais animada e esqueci as dores!

Por volta do meio dia chegamos ao orfanato Springs of Hope. Ao entrarmos, Hebrom perguntou se eu gostava de bebes, e eu respondi que adorava, claro. Tirei os sapatos, entrei no salao e comecei a trabalhar. A responsavel pelas criancas me entregou uma mamadeira, um babador e pediu que eu escolhesse um bebe para alimentar. Peguei o primeiro da fila, uma menininha linda, que devia ter uns 8 meses. 
 

Terminei de dar a mamadeira a ela e disse que estava pronta pra mais trabalho. A responsavel, entao, perguntou se eu sabia trocar fraldas. Disse que sim, e lembrei dos 2 meses que passei com minha sobrinha Sofia, assim que ela nasceu. Mas a realidade ali era bem diferente. Pra comecar, as fraldas eram de pano, e eu nunca as tinha usado. Alem disso, nao havia trocador, nem lencos umedecidos, nem pomadinhas e talquinhos cheirosos.



O trabalho era simplesmente tirar a fralda suja e colocar outra. Toquei o tecido e vi o quanto era grosso e parecia desconfortavel para as criancas. Me senti mal por elas, principalmente quando percebi que muitas estavam com a pele um pouco ferida. Troquei tres criancas, e, como a ultima nao parava de chorar, a segurei no meu colo por um tempo, esperando que ela dormisse.


Enquanto cuidava das criancas, comecei a pensar que muitas pessoas que conheco e foram adotadas hoje tem uma vida maravilhosa, com tudo do que precisam. Fiquei triste ao pensar que muitas familias quenianas nao tem dinheiro sequer pra criar os filhos que geram, muito menos adotar outros! Meu coracao doeu de pensar que a maioria daquelas criancas vai crescer sem saber o que e’ um pai ou uma mae, o que e’ viver numa familia.

Sai do orfanato com vontade de chorar, orando pra que Deus mude o destino das criancas que conheci. Na maioria dos casos, eles crescem em extrema pobreza, tornam-se adultos, geram filhos, e, como nao podem cria-los, tambem os entregam para adocao. E’ um ciclo vicioso, uma realidade dificil que se repete. E o pior: no Quenia, os orfanatos sao privados. Nao ha’ nenhum incentivo ou beneficio da parte do governo. Fiquei admirada com o amor que move as pessoas a investirem o que tem na tentativa de dar a criancas abandonadas um futuro melhor.

Jesus nos disse que ninguem que nao for como crianca entrara’ no Reino dos Ceus. Hoje, ao receber olhares cheios de pureza e ver aquelas maozinhas segurando firme meus dedos, consegui entender melhor por que. Assim como as criancas se entregam completamente, dependendo de nosso cuidado e carinho, tambem devemos nos colocar diante de Deus com coracoes puros e prontos a receber a protecao que Ele tem pra nos dar.

A verdade, e’ que, mesmo quando crescemos, ainda assim precisamos do nosso Pai celestial. Ainda que nossa familia falhe, ou que vivamos uma realidade diferente do que desejamos, Deus nao deixa ninguem orfao. Seu desejo e’ estender seu cuidado a todos quantos, de coracao sincero, o recebem como Senhor de suas vidas.




"Em verdade vos digo que, se nao vos converterdes e nao vos fizerdes como criancas,
de modo algum entrareis no Reino dos Ceus."

Mateus 18:3

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Dia 24 - Um pedacinho da Etiópia

Habari! Como voces estao?

Chegou a minha ultima semana aqui no Quenia, e quero aproveitar tudo com muita intensidade! Estou tentando nao pensar na partida em si, mas nas coisas boas que eu ainda posso viver nos proximos 7 dias.

Bom, o visto que tirei no Brasil me dava direito a entrar no Quenia a partir de 1 de novembro e ficar ate’ 1 de fevereiro. Como a data final era quarta, decidi que hoje iria ao setor de Imigracao pedir mais alguns dias aqui. Mas como isso so’ pode ser feito em Nairobi, e eu nunca tinha ido la’, pedi ao meu amigo Wario que me acompanhasse.

Saimos da base por volta das 11h15, e depois de pegarmos um engarrafamento monstruoso, chegamos em Nairobi, a capital do pais, la’ pelas 13h. Depois de descermos do onibus, caminhamos ate’ a Imigracao e entramos na fila pra pedir a extensao. Gracas a Deus nao tive problema nenhum e, apesar de so ter pedido 15 dias (por seguranca), ganhei o direito de ficar ate’ dia 27 de abril! Aaaah, como eu queria...

O assunto principal estava resolvido, mas como Wario e eu tinhamos o dia livre, ele me convidou pra visitar o lugar onde ele havia morado por 18 anos. Wario e’ da Etiopia, e foi trazido para o Quenia por seu irmao mais velho quando ainda era crianca. Como aqui na Africa e’ comum que as mulheres comecem a ter filhos muito cedo e terminem muito tarde, o irmao de Wario tem filhos da idade dele! Prontamente aceitei o convite, cheia de curiosidade.

Pegamos mais um onibus, e fomos nos afastando cada vez mais dos predios, dos edificios comerciais... Em algum tempo, entramos em um complexo de favelas. Wario falou que era ali que ele tinha morado praticamente a vida toda. Apesar de nunca ter estado em uma favela, me senti segura por saber que ele conhecia muita gente ali.


Quando descemos do onibus, o primo de Wario estava esperando por nos. Nas ruas, pessoas, alimentos, bicicletas, tendas, lixo e animais disputam espaco. O lugar e’ realmente muito simples. Caminhando, Wario perguntou se eu topava comer comida tipica da Etiopia. Nem pensei duas vezes – tanto porque estava morta de fome, quando porque estava morta de curiosidade.

Entramos em um restaurante muito simples mesmo, e disse a Wario que ele ficasse ‘a vontade pra escolher, ja’ que eu nao conhecia nada. Ele pediu “Tips”, e um tempo depois chegou o prato. A comida veio numa bandeja, e consistia de uma massa branca bem fininha (que de primeira eu confundi com um pano de prato) e um pratinho de carne. Wario despejou o conteudo do pratinho na massa (foi ai que vi que nao era pano de prato!). Fiquei esperando garfo, faca, prato... Mas essas coisas nunca chegaram.


Wario me explicou que, na Etiopia, alem de nao se usar talheres, comer e’ considerado um ato social. Ele disse que comer sozinho e’ sinal de egoismo, e as pessoas estao sempre buscando amigos e parentes pra dividir um prato. Sendo assim, colocamos a mao na massa (literalmente) e dividimos o Tips. Eu cai’ na besteira de morder uma pimenta e quase morri do coracao. Eu tenho uma sorte com essas coisas...

Devidamente alimentados, seguimos ate’ a casa onde Wario foi criado. Sua familia e’ praticamente toda etiope, e ate’ a decoracao da casa e’ bem diferente do que se ve por aqui. Enquanto todos falavam suaili ao meu redor, fiquei conversando em ingles com a sobrinha de Wario. Todos eram muculmanos, mas em momento algum me senti intimidada. Pelo contrario, todos foram muito hospitaleiros.


No caminho de volta, paravamos praticamente em cada esquina pra Wario cumprimentar seus amigos de infancia, com os quais ele cresceu jogando futebol. Tambem encontramos um grupo de criancas que estava saindo a escola.



Apesar de estar dentro de Nairobi, pude ver um pedacinho da Etiopia atraves das experiencias que Wario me contou, da sua familia e ate’ mesmo da comida!

Saimos de la’ por volta das 17h, pegamos o Matatu (onibus) e caminhamos ate’ a base. Eu estava muito cansada, mas tambem muito feliz pelo dia que tive.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Dia 23 - Outra perspectiva

Habari, pessoas!

Primeiro quero deixar registrada minha imensa alegria de saber que minha amiga Talyta, que estava em missoes no Peru, voltou para casa sã, salva e cheia de aventuras pra contar. Tenho certeza que ela tambem descobriu que dedicar as ferias pra missoes eh maravilhosamente gratificante, apesar de todo o cansaco que isso traz. Entao, Tatynha, agora relaxe e descanse muito, porque ano que vem tem mais, ne? Quem sabe nao vamos juntas?

Hoje passei o dia inteiro com a familia da Celia, a missionaria brasileira que mora aqui. Celia tem um lindo projeto de adocao de criancas. Seu objetivo e' construir 8 casas, e em cada casa alojar um casal e 12 criancas orfas. A ideia nao eh criar um orfanato, e sim um ambiente com uma estrutura familiar solida - pai, mae e irmaos - e que de 'as criancas a oportunidade de se desenvolverem plenamente, sem traumas.

Celia tem 11 filhos, dos quais 2 sao biologicos - fruto do seu casamento com Peter, que e' queniano. Fui 'a casa deles hoje porque estou fazendo um video sobre o projeto para levar para a igreja dela, em Belo Horizonte, e levantar sustentadores.

Tenho tido o enorme prazer de estudar comunicacao e trabalhar com video, e pra mim e' uma honra usar o que eu tenho aprendido em favor de uma causa tao linda! Na verdade, meu projeto missionario e' exatamente esse: integrar evangelismo e producao audiovisual para alcancar pessoas do mundo inteiro!

Foi muito divertido passar o dia com essa grande (muito grande) familia!

Pela manha, nos fomos 'a uma igreja em Nairobi, que se chama Karen Vineyard Church. E o que vi foi completamente diferente da ultima experiencia que tive aqui. Se voce ainda nao leu sobre isso, de uma olhadinha no post Dia 9 - A Casa do Senhor.

A Karen Vineyard Church funciona numa escola, e e' alugada para os cultos aos domingos. A estrutura e' imensa, com diversas programacoes para todas as idades ao longo da semana. Diferente da igrejinha que visitei ha' dois domingos, essa e' bem mais ritualista, no sentido de que segue uma ordem pre-estabelecida. A maioria dos frequentadores da KVC sao mzungos - ou seja, gringos. Sao pessoas de outros paises que estao visitando ou que moram no Quenia.

A reuniao comeca 'as 10h30, quando as pessoas se confraternizam para tomar cha' ou cafe' do lado de fora e conversar, num momento legal de comunhao e conhecer gente nova. O culto mesmo comeca 'as 11h, e vai ate' 12h30. Uma curiosidade e' que na KVC nao ha' mensagem. Pelo menos, hoje nao houve. Momentos de canticos sao intercalados com momentos de leitura biblica, oracao e curtos testemunhos.


De fato, o ambiente e' muito diferente, mas nao posso dizer que e' melhor ou pior do que o que conheci na ocasiao passada. O que tenho realmente aprendido e' que o Senhor se alegra com nossas iniciativas sinceras de exalta-lo, seja num lindo templo ou debaixo de uma 'arvore. Ate' porque, como o proprio Jesus disse, onde estiverem dois ou tres reunidos em seu nome, ali tambem Ele estara' (Mateus 18:20).

Pra voces, desejo um domingo maravilhoso e cheio da presenca de Deus!

Beijos!

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Dia 21 - 2/3 completos

Habari, gente! Como estao? Mais uma vez, obrigada pelo carinho, pelos comentarios, por se alegrarem comigo no que tenho vivido aqui.

Hoje foi mais um dia de fazer cartoes e trabalhar na cozinha. Nesses dias penso muito em mamae e papai. Fazer cartoes e' a cara da minha mae - a pessoa mais criativa que conheco! E cozinhar e' a cara do meu pai - o melhor cozinheiro do mundo!

Alem dos trabalhos, os dias tem sido cada vez mais divertidos. Aqui na base tem uma mesa de pingue-pongue, e depois do almoco ou do jantar nao dispensamos uma partida, principalmente Mulenga e eu. Ontem nos duas jogamos uma partida de 100, e raramente os meninos conseguem ganhar da gente!

Se existe neste mundo alguem que "morre de vespera", essa pessoa sou eu. Confesso que pensar que me restam poucos dias aqui me faz muito (muito!) triste. Aqui no Quenia encontrei uma identidicacao profunda com o lugar, as pessoas, a comunidade e a missao em si. O dia de partir vai ser realmente dificil, e tenho tentado nao pensar nisso.

Desde semana passada, tenho refletido muito em Lucas 14 : 26 e 27, que diz assim:
Se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.
E qualquer que não levar a sua cruz, e não vier após mim, não pode ser meu discípulo.

Pensar em deixar para tras a familia, os amigos, os lugares dos quais gostamos, e' dificil, mas o desprendimento e' um pre-requisito necessario a todo aquele que resolve seguir a Deus. Sei que, em alguns momentos, as decisoes de partir seraos dolorosas, mas tambem tenho aprendido que a obra missionaria e' extremamente dinamica, por isso requer que quem se envolve esteja disposto a ir e vir muitas vezes.

Notem que o texto fala em aborrecer pessoas e ate' mesmo a propria vida! Isso significa estar disposto a abrir mao de sonhos e vontades pessoais, a fim de alcancar um proposito maior. Tenho muitos planos que adoraria realizar, mas nada me move mais do que o desejo de estar na obra missionaria. E o que ha' em mim vai alem da vontade de participar. E' a certeza de que estou no caminho certo. Minha unica recompensa e' saber que estou cumprindo aquilo para que o Senhor me chamou, e essa certeza me satisfaz plenamente.

No meu dia a dia, conciliando dois trabalhos e faculdade, e' dificil manter o foco. O mundo oferece muitas distracoes, e oportunidades que fazem nossos olhos brilharem. Em meio a tudo isso, continuar firme no proposito de seguir em missoes e' um verdadeiro desafio. Por isso esse tempo de dedicar minhas ferias pra missoes e' tao importante, e me ajuda a caminhar nos trilhos certos...

Ah, e para quem tem acompanhado a historia, noticias de Mulenga: Desde semana passada ela esta' esperando o novo passaporte chegar, para dar entrada no visto. A embaixada tem enrolado muito, e hoje ligaram dizendo que, se ela quer receber o documento ate' a proxima semana, tem que pagar outra quantia. Todo esse atraso a tem deixado apreensiva e insegura. Orem pra que Deus continue realizando a obra que completou, e abra o caminho para Mulenga de acordo com a vontade dEle! Assim que tiver mais noticias, compartilho com voces.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Dia 19 - Apaixonada

Habari!

Hoje e’ o dia da mulher mais linda a especial do mundo… Minha mae! Parabens, Mamma! Sei que nao precisamos estar perto pra estarmos juntas, mas adoraria poder te abracar no seu dia... Obrigada por todas as coisas maravilhosas que tenho aprendido com a senhora. Pelo exemplo em tudo, na casa do Senhor e dentro da nossa casa. Tenho orgulho da mae que tenho: linda, inteligentissima, sabia, cuidadosa, criativa... Te amo demais!

Agora vamos ao relato de hoje, ne?

Bem, quando a gente faz uma viagem assim, nunca sabe o que vai encontrar pela frente. Algumas coisas acabam nos surpreendendo e vindo de maneira inesperada, sem estarmos preparados. E o que tenho pra dizer hoje e’ que eu estou apaixonada. Quero dizer, completamente apaixonada! Quando o vejo, nao consigo me segurar. Tenho que correr pra ficar ao seu lado, mesmo que seja sem dizer nada. E quando estamos juntos, tudo fica muito melhor e mais divertido.

Ele e’ Queniano, e nao fala muito bem ingles. Mas quem disse que as palavras sao sempre necessarias? Estou aprendendo que mesmo sem elas se pode ter um bom relacionamento! ‘As vezes precisamos nos comunicar so’ por sinais, e tudo acaba ficando muito mais divertido. Sinceramente, perto dele o tempo voa!

O alvo de todo esse amor e carinho se chama Johnny. A ma’ noticia e’ que vou ter que me contentar em estar junto dele so’ por aqui. Nao acho que ele poderia sair do pais agora, ate’ porque a minha fofura so’ tem tres aninhos! Olhem como ele e’ lindo:


Pois e’... Johnny e eu temos passado muitas tardes juntos. Ele me escolheu como sua baba’, e fico toda feliz quando o vejo correndo pro meu colo. Ate’ na hora das refeicoes ele faz questao que eu esteja junto. A unica palavra que Johnny sabe em ingles e’ “Yeah”. Entao, nao importa o que eu fale, ele sempre responde assim. Mesmo que ele esteja fazendo alguma coisa errada e eu tente dizer pra ele parar, ele simplesmente diz “Yeah” e continua.

Ao mesmo tempo, eu nao sei praticamente nada de suaili. Hoje, quando estava dando comida pra ele no jantar, ele comecou a ficar inquieto e querer sair da cadeira. Eu nao estava entendendo nada, mas imaginei que ele estivesse cheio. Tentei de todas as formas dizer que ele precisava terminar de jantar, mas ouvi um “Yeah” e ele continuou querendo sair. Na ultima tentativa, pedi ao meu amigo Wario, da Etiopia, pra traduzir o que ele estava dizendo. Ai’ sim entendi que ele estava querendo agua! Tadinho... se dependesse de mim ia ficar com sede pra sempre!

Fico triste de pensar que, quando acabarem meus dias aqui, nao sei se verei Johnny alguma outra vez. Nem sei ele ele vai lembrar de mim... Mas, ainda assim, ficarei feliz toda vez que eu pensar nessa pulguinha que me fez cair de amores!

Fico por aqui... Beijos e ate’ amanha!

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Dia 18 - Um dia de cozinha

Oi, gente!

Hoje o dia foi realmente intenso... Eu estava escalada para trabalhar na cozinha – e isso significa fazer cafe’, almoco e janta. Aqui na base tomamos cafe’ da manha ‘as 7h, por isso tive que acordar ‘as 6h pra preparar tudo. E, quando todo mundo acabou, eu limpei a cozinha, lavei a louca e organizei o refeitorio.

Geralmente temos um intervalo ate’ 8h30, mas pra mim acabou nao dando tempo de descansar. ‘As 9h chegou Mamma Joseph, a cozinheira da base. Imaginei que comecar a fazer o almoco ‘aquela hora seria muito cedo, mas nao disse nada quando Mamma Joseph me mandou comecar a cortar os vegetais.

Foi uma manha muito divertida! Ela fala muito pouco ingles, so’ o basico mesmo. E, como ela sabe que eu fico tentando aprender suaili, ela so’ falava comigo nesse idioma. Aproveitamos o contexto, e tive uma bela licao de suaili. Ja’ sei falar pimentao, tomate, alho, cenoura, arroz... Mamma Joseph e' uma fofa!

Aos 10 anos, quando comecei a estudar ingles, nao imaginei que eu um dia estaria andando pelo mundo, conhecendo e me comunicando com gente dos quatro cantos do planeta. Hoje vejo que, ate’ nisso, Deus estava me preparando. Como muitos sabem, sou professora de ingles em um curso particular, e vejo muitos dos meus alunos indo praticamente arrastados para a sala de aula. Alguns passam o tempo todo calados, se recusam a responder as perguntas, nao querem participar. Mas pra mim, estudar ingles nunca foi um fardo – e olha que eu passei 7 anos no curso!

Cada vez mais acredito que precisamos encarar todos os passos da nossa vida como uma preparacao para algo maior que Deus ja’ separou para nos... E, assim como o ingles e’ uma excelente ferramenta, creio que os outros idiomas aos quais tenho me dedicado, meu curso universitario e as experiencias que tenho vivido em missoes, entre outras coisas, vao me dar aquilo que eu preciso pra fazer o trabalho que Deus colocar em minhas maos.

Bem, de volta ‘a cozinha... Em meio aos risos com Mamma Joseph, fiz novamente aquela salada maluca que eu inventei e – inexplicavelmente – todo mundo gostou. Tive meia hora de intervalo depois do almoco, e comecamos a fazer Chapatis para a janta. Nada menos que 142 Chapatis! Voces nem imaginam o trabalhao que isso e’...

No final da tarde, alem das atividades da cozinha, estava tomando conta de um garotinho de 3 anos, chamado John. Terminei tudo por volta das 18h. Foi cansativo demais dar conta de uma crianca cheia de energia e preparar um jantar ao mesmo tempo, e quando terminei de comer eu estava completamente exausta e cheirando a fumaca. Ossos do oficio...

Gente, sinceramente, eu to muito feliz aqui. E hoje bateu um aperto ao pensar que so’ faltam 2 semanas pra eu voltar pro Brasil. Espero ainda aprender muito, e compartilhar com voces tambem.

Obrigada por continuarem visitando o blog e comentando. Mesmo no final do dia, cansada, quando eu penso nos meus fieis leitores bate logo a vontade de escrever! Mas por hoje e’ so’... Ate’ amanha!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Dia 17 - Relatos de Mombasa

Habari!

Ja’ estou novamente em Athi River, e agora e’ hora de contar como foram meus dois dias de Mombasa… Prontos?

Saimos da base na sexta-feira por volta das 10 horas, rumo ‘a estacao de onibus. A primeira surpresa foi saber que nao ha’ estacao. E’ simplesmente um lugar onde os onibus param. Apesar das diversas opcoes, escolhemos ir pela companhia Dreamline, que e’ um pouco mais cara porem muito mais confiavel... Os onibus que passavam eram inacreditaveis. Quase todos chegavam superlotados, de gente e de bagagem.


Depois de quase 2 horas de espera, o agente disse que o onibus da Dreamline nao viria mais. Fiquei muito chateada e pedi parte do meu dinheiro de volta, ja’ que iriamos em uma companhia de qualidade inferior. Mas, paciencia, ne’? Respirei fundo e entrei no onibus.

Durante o percurso, pegamos muito congestionamento. A estrada para chegar ate’ Mombasa e’ rota para diversos caminhoes que levam carga de varios paises vizinhos ate’ a costa leste da Africa. Depois de 3 horas de viagem, fizemos nossa primeira parada. Fui acompanhar Mulenga pedindo uma “Samoza”, um tipo de salgado recheado com carne moida. A grande surpresa da Samoza foi que ela estava super apimentada! Mas aguentei o tranco...


A viagem foi cansativa demais, ja que a estrada tinha muito buraco mesmo! Tentei me distrair com a paisagem. Nunca gostei muito de estudar geografia fisica, mas, na pratica, e’ muito interessante ver as mudancas do relevo, da vegetacao... enfim, a paisagem como um todo. Incrivel como, ao nos aproximarmos mais de Mombasa, deu pra sentir ate’ a diferenca da umidade do ar!


No caminho, vi dois macacos enormes e um grupo de camelos! Ah, como eu queria que os olhos tirassem foto... Tambem passamos por diversos vilarejos. Todos muito pobres, e sempre com bastante gente na beira da estrada vendendo frutas e outras coisas.


O trajeto, que deveria durar 5 horas, durou 7h30! Na entrada de Mombasa o engarrafamento era interminavel! Quando desembarcamos, pegamos um Tuku-tuku – especie de taxi para tres pessoas. E’ tipo um triciclo motorizado e fechado. E, acredite em mim, voce nunca viu um transito tao louco quanto o de Mombasa! As pessoas buzinam sem parar, passam por cima da calcada, andam colados nos outros, fazem filas duplas, triplas, quadruplas!


Foi um alivio descer do Tuku-tuku. O proximo passo era pegar uma balsa ate’ o outro lado da cidade. Eu e Mulenga estavamos esperando perto do portao para entrar na balsa, quando, de repente, uma multidao comecou a empurar todo mundo. Ficamos morrendo de medo, sem entender o que era. Depois descobrimos que os agentes da balsa estavam fechando os portoes, por isso as pessoas que ainda estavam do lado de fora estavam se espremendo pra entrar.

Acabando a travessia, pegamos outro Tuku-tuku ate’ a base. Chegamos la’ quase ‘as 20h30, mortas de cansaco. Fomos muita bem recebidas e, depois de jantar, dormimos.

A base de Mombase e’ linda, bem praiana mesmo! E tem uma bela vista para o mar. Tem uma praia que fica logo no fim da rua, mas eu nem quis aparecer por la’. O motivo? Tubaroes... E nao e’ lenda nao! Em um dos dias, quando estavamos conversando no terraco, eu e Mulenga vimos um grupo deles nadando pelo canal onde passa a balsa. Mas nao se preocupem, pai e mae, as praias que eu visitei sao protegidas por recifes. Nada de tubaroes por la’!


Amanheceu, e enfim era hora de seguir pra praia! Estava doida pra ver o Oceano Indico... Atravessamos a balsa novamente. Dessa vez, sem empurra-empurra!


Chegamos na praia de Pirates por volta das 10h. E que lugar lindo! A mare’ estava bem baixinha, por isso era possivel andar centenas de metros com a agua na altura da canela. A ‘agua e’ incrivelmente limpa e cristalina. Ainda nao sei dizer se e’ azul ou verde, mas com certeza e’ encantadora! Fomos acompanhadas de Steve, um missionario da base de Mombasa. Eu estava muito feliz de estar ali! O Oceano Indico era ainda mais lindo do que eu imaginei...

Por favor, nao tirem onda com minha roupa de banho. Aqui, bikini e’ impensavel! E, se voce for crente, nem maio e’ considerado decente o suficiente. Entao tive que recorrer a um traje tipico...








‘A tarde Mulenga e eu fomos ate’ o centro da cidade, porque ela precisava comprar umas coisas. Voltamos para a base antes mesmo das 17h, esgotadas e queimadas. Passamos a noite por ali mesmo e fomos dormir.

No domingo de manha, apesar de eu nao estar me sentindo muito bem, fomos visitar um casal de missionarios – uma Suica e um Queniano. ‘A tarde fomos ‘a praia de Shelly, que fica a uns 10 minutos da base. Como Steve nao estava conosco, preferimos nao levar a maquina. Entao, dessa praia nao tenho fotos, so’ a recordacao...

Nosso onibus estava marcado para sair ‘as 23h, mas como nao queriamos ficar andando por ai’ ‘a noite, saimos das base ‘as 19h. Gastamos um tempinho numa Lan House, conversamos, comemos e fomos para a sala de espera do onibus. Tomei um susto quando olhei para a televisao e vi o rosto de Claudia Raia! Quando prestei mais atencao, vi que se tratava da novela “A Favorita”. Foi muito engracado ouvir os dialogos dublados...


O onibus saiu ‘as 23h15, e confesso que minha maior lembranca do trajeto de volta e’ que eu dormi como um bebe! Chegamos aqui pouco antes das 5h.

Os dias em Mombasa foram bons pela oportunidade de conhecer o Oceano Indico (coisa que eu queria tanto) e pelo descanso. Mas, sinceramente, aturar aquele transito nao e’ pra qualquer um. Alem disso, ser branca nao e’ facil por la’. A palavra para gringo aqui e’ “mzungo”, e toda hora eu ouvia alguem do meu lado comentando sobre mim, ou falando diretamente comigo. Principalmente homens. Mesmo quando as pessoas falavam em Kiswahili, eu sabia que era comigo, por causa da palavra "mzungo". Eles tentam puxar conversa, apertar sua mao, te chamam pra “ir ali”... E’ horrivel. Me senti pessima por nao ser respeitada pela minha cor.

No Brasil, por sermos tao miscigenados, nao fazemos turistas passarem por tanto constrangimento quanto eu passei algumas vezes. Essa parte da viagem foi dificil e estressante, mas ainda assim valeu a pena!

E ja’ estou de volta ‘a rotina da base. Visitar a praia foi legal, mas eu prefiro mil vezes mais estar aqui no meu interior querido! =)

Deixo voces com o videozinho que fiz quando cheguei na praia de Pirates... Aproveitem!

domingo, 22 de janeiro de 2012

Dia 16 - De volta pra "casa"

Oi, gente!

To passando aqui realmente so' pra dar um alo... Daqui a algumas horas saio de Mombasa e volto pra minha "casa" - a base de Athi River. O onibus sai 'as 23h, e vamos chegar la' por volta das 5h.

Estou cheia de historias pra contar, entao amanha venham preparados pra ler um longo relato, ok?

Beijos!

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Dia 14 - Pe' na estrada

Habari!

Passei aqui so' pra avisar que estou partindo daqui a alguns minutos para Mombasa. Espero ter acesso a internet quando chegar la', pra contar pra voces como foi a viagem!


Beijos e ate' logo...

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Dia 13 - O desafio de estudar

Oi, gente! Como voces estao?

Tive um dia muito diferente do convencional... Acompanhei Mamma Phillip (a mesma da batata frita) a uma escola primaria para entregar alguns materiais como cadernos, livros, lapis, etc. A base tem um programa de tutoria de criancas, ajudando suas familias a comprar material escolar e uniforme, bem como dar suporte pra que aquelas criancas continuem na escola.

Ontem, no periodo de oracao, o lider da base pediu para que orassemos por uma certa regiao aqui no Quenia. Meninas de 12 e 13 anos estao sendo “vendidas” para casamento. Seus pais as trocam por gado porque consideram que, a essa idade, ja’ sao adultas. Em comunidades assim, o estudo e’ considerando uma perda de dinheiro e tempo. Qualquer situacao e’ motivo pra tirar uma crianca da escola. Por isso e’ preciso investir para reverter esse quadro de abandono dos estudos.

Fui com o proposito de conhecer o projeto, chamado Child Sponsorship, e tambem pegar umas imagens para o video que quero fazer da base. Quando sai do carro e entre na escola com a camera, fui cercada de uma multidao de criancas. Pareciam formiguinhas. Eu precisava pedir licensa pra andar. Todos ficavam disputando ou pra aparecer nas imagens ou para assistir a gravacao da minha perspectiva. Foi muito interessante mesmo!


 
Dezenas de materiais foram entregues. E’ claro que isso nao vai tirar ninguem da pobreza, mas e’ um estimulo de valor incalculavel. Muitas das criancas daquela escola estavam com seus uniformes completamente rasgados. Outras nao tinham sequer sapatos ou sandalias. Estudar numa realidade assim e’ um desafio, e ver a forca de vontade daquelas criancas me fez lembrar, com tristeza, muita gente que eu conheco e que encara os estudos como algo secundario (quando muito)!



Aqui no Quenia nao existe educacao gratuita. Tudo e’ pago, mesmo as escolas que pertencem ao governo. Os professores sao autorizados a baterem nas criancas ate’ mesmo com varas caso elas respondam incorretamente – e a maioria dos pais concorda com esse metodo. Quando terminam o ensino fundamental, fazem uma prova nacional e e’ o governo quem diz onde podem estudar, de acordo com seu rendimento. Universidade e’ para pouquissimos e custa muito caro.

Realmente, faz sentido que uma familia que nao tem o que comer considere comprar alimentos mais importante do que deixar os filhos na escola. Essa realidade faz da miseria um ciclo vicioso. Filhos nao conseguem superar as realizacoes dos seus pais, nao conseguem subir na vida e mudar a propria realidade.

Orem pela educacao no Quenia, para que se encontre um sistema mais justo e condizente com a realidade das pessoas. E se voce estuda, ore tambem agradecendo a Deus por essa oportunidade... E, a partir de amanha, tente comecar a mudar sua perspectiva e valorizar mais a possibilidade de estudar.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Dia 12 - Piki-piki

Habari!

Hoje o dia foi meio invalido para trabalho. Eu estava preocupada com algumas coisas relacionadas ao cartao que eu trouxe para sacar dinheiro aqui, entao minha manha ficou praticamente resumida a tentar me conectar 'a internet e resolver o que eu precisava. 'A tarde, mais algumas providencias, e la se foi quase o dia todo.

Mas no meio de tudo isso ainda deu tempo de dar uma ajudinha no almoco. Nao costumo cozinhar em casa, primeiramente porque nao preciso (e isso e' um alivio) e, em segundo lugar, porque sempre que sobra uma brechinha meu pai assume a cozinha magnificamente, e ninguem ousa tentar fazer melhor.

Para o almoco de hoje, so' tinhamos vegetais: batata, tomate, repolho, cenoura e cebola. Nao queriamos fazer sopa, entao, quando eu cheguei na cozinha, as batatas ja' estavam cozidas, mas ninguem sabia o que fazer com o resto. Acabamos decidindo por fazer uma salada para acompanhar as batatas cozinhas, e eu inventei de preparar um molho para a salada. Meio 'as cegas, misturei maionese, alho, gengibre e curry... e deu certo! Fiquei flutuando com os elogios...

'A tarde fui ate' a cidadezinha de Machakos terminar de resolver o que precisava, e meu amigo Firs, de Ruanda, foi quem topou aturar comigo o sol escaldante, pra que eu nao fosse sozinha. Na ida, pegamos uma carona no carro de um dos alunos. Mas para voltar para a base precisamos pegar um Matatu (kombis de transporte publico) ate' a cidadezinha de Makutano, e de la' voltar para a base. As opcoes para a segunda parte do trecho eram duas: caminhas 50 minutos ou ir de piki-piki.

Considerando que eu nao tinha passado protetor solar, estava morrendo de fomo e de sede, pedi e Firs que voltassemos de piki-piki. Mas o que e' piki-piki? Bem... e' um tipo de transporte meio perigoso, mas muito comum por aqui. Sao moto-taxis que carregam quantas pessoas voce achar que cabem. Eu nunca vi uma piki-piki com uma pessoa so'. A corrida vale desde que todos estejam sentados, mesmo que seja no colo de outros ou sobre o tanque da moto.

Andar de piki-piki e' o tipo de coisa que meus pais preferiam saber que eu nao fiz, mas foi um mal necessario... Tentei demais colocar aqui a unica foto que consegui tirar da piki-piki, mas a internet ta muitissimo lenta. Entao fica pra uma proxima vez!

Esta manha recebi um convite especial... Pregar em uma outra cidade, ainda mais no interior, numa comunidade bem carente mesmo. Ainda esta' pra ser confirmado, mas provavelmente irei no primeiro fim de semana de fevereiro. Orem comigo por isso. Ficarei realmente honrada se puder compartilhar o que tenho e cumprir meu papel como mensageira da unica verdade que salva vidas - o evangelho.

E por hoje e' so'...

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Dia 11 - Escolhendo a melhor parte

Habari, Brasil! Como estao voces estao?

Hoje terminei de ler o livro de Josue’. Quantas licoes! Passei o dia refletindo sobre o que esta’ no ‘ultimo capitulo, versiculo 5, quando Josue’ diz que, independente das escolhas do povo, ele e sua casa serviriam ao Senhor. ‘As vezes tendemos a ir com a manada, cair no pensamento de que “a voz do povo e’ a voz de Deus”. E’ dificil escolher remar contra a mare’ e correr o risco de ser apontado pelos outros por ser diferente.

Mas quando nossa conviccao e’ firme sobre quem Deus e’ e o que Ele espera de nos, o caminho parece clarear e, mesmo que o resto do mundo esteja olhando para outros objetivos, conseguimos manter o foco na missao. Sinceramente, amo meu curso na universidade e fico feliz de poder trabalhar em coisas das quais gosto. Mas ainda que tudo isso seja maravilhoso e gratificante, nao e’ o que me faz plenamente realizada. Sou completamente feliz quando estou em missoes.

Nao sei o que meus amigos vao escolher, ou o que vao pensar da minha escolha. Mas eu ja’ decidi que quero ocupar o lugar que Deus reservou pra mim, seja Ele onde for. E e’ muito bom poder ver isso nao como um fardo, mas como uma honra!

Bom, de manha, adivinhem o que fiz... Cartoes, novamente! E ‘a tarde ajudei na cozinha. Gosto muito de deixar a criatividade solta fazendo cartoes, mas a verdade e’ que fico muito sozinha nessa atividade. Na cozinha sempre tem bastante conversa, entao e’ muito mais legal!

Aqui nao temos fogao nem gas. E’ tudo na base da lenha. E as panelas ficam presas em buracos no chao, e alcancam mais ou menos a altura do joelho. Hoje o pessoal comeu um guizado meio Brasil, meio Zambia, ja’ que Mulenga e eu cozinhamos juntas... Ate’ que ficou bom!




E por hoje e’ so’. Tenho aprendido muitas palavras e expressoes em Kiswahili. Acho essa lingua simplesmente linda, e o pessoal da base tem tido bastante paciencia em me ensinar. Entao, ja’ que e’ hora de dormir, “Lala salama” pra mim!

Tuta onana kesho! (Ate’ amanha)

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Dia 10 - Multiplicando dons

Nem acredito que ja' estou na minha segunda semana aqui! Vai ser dificil deixar este lugar...

Sempre que podemos, eu e Mulenga passamos um tempinho cantando e tocando. 'As vezes so' eu toco, outras ela toca violao eu teclado. Ontem, depois de passarmos um bom tempo em adoracao, ela me chamou pra participar do grupo de louvor da base. Aceitei na hora! E como segunda-feira e' dia de culto aqui, hoje foi a minha "estreia".

Sinceramente, acho que minha habilidade no violao e' muito limitada, e em qualquer outra situacao eu ate' teria vergonha de tocar. Na minha igreja, por exemplo, nunca toco, porque gracas a Deus tem gente la' que realmente nasceu pra isso! Mas aqui, o pouco que eu tinha pra dar significou muito.

Pras pessoas da base, foi um incremento nos canticos, e recebi muitas palavras de encorajamento. Mas pra mim, acho que significou mais ainda, por poder aprender que nossos dons se engrandecem quando usados no lugar certo e na hora certa. As poucas notas que eu sei tocar podem nao ser nada pra mim, mas aprendi hoje que o talento se multiplica quando encontra a necessidade.

Ja estou ansiosa pelo proximo culto, pela oportunidade de participar e contribuir. Sei que sem mim as coisas continuariam acontecendo, e que, ainda que nao houvesse nenhum instrumento, Deus seria louvado do mesmo jeito. Mas oferecer a Ele o pouco que eu tenho me faz ter certeza de que o trabalho nao e' vao. Nao sao notas ao vento. Existe um Deus me ouvindo atentamente, e alegre pelo culto prestado a Ele, ainda que na simplicidade.

Ainda nao tive oportunidade de trabalhar diretamente com a comunidade, mas no final do culto o lider da base disse que as saidas de Evangelismo devem comecar nessa sexta-feira. Estou orando pra que de certo! Orem tambem...

Bom, o momento de adoracao terminou 'as 10h, e passei o resto da manha lavando (MUITA!) louca. Mas o ambiente aqui e' tao bom que, conversando com um e com outro, o tempo passa rapidinho!

No final da tarde fomos jogar pingue-pongue. Em determinada hora, olhei ao meu redor e fiquei cheia de empolgacao quando percebi que meus 4 parceiros de jogo eram de 4 paises diferentes. Foi uma boa mistura de Brasil, Quenia, Ruanda, Zambia e Etiopia! Deus sabe que eu sempre sonhei com isso... Estar com pessoas do mundo todo!

Alem dessas nacionalidades, temos aqui muitos canadenses, uma suica, outros brasileiros e um missionario de Zimbabue. Nao tem como nao crescer estando em um ambiente assim, aprendendo um pouco com um e com outro.

Bom, ja' esta' ficando tarde... Vou dormir e descansar os bracos, porque amanha e' dia de muito trabalho na cozinha: fazer Chapatis!

domingo, 15 de janeiro de 2012

Dia 9 - A Casa do Senhor

Habari, gente! Como voces estao?

Agora estou escrevendo meio que "ao ar livre", vendo o Sol deixar seus ultimos raios antes que seja totalmente noite. O cenario esta' realmente lindo...

Este e' meu segundo domingo no Quenia. O tempo esta' realmente passando muito rapido. Mas o engracado e' que todo mundo da base diz que tem a impressao que eu estou aqui ha' muito mais tempo, e eu tambem! No domingo passado eu ja cheguei 'a tarde, entao nao deu tempo de ir 'a Igreja, ja' que os cultos aqui sao so' pela manha. Mas hoje tive minha primeira experiencia numa igreja queniana.

De cara, compreendi por que so' tem um culto por aqui. Locomocao e' uma coisa dificil, e pra grande maioria das pessoas o unico transporte disponivel sao seus proprios pes. Caminhamos bastante ate' chegar na Igreja. Como ja' eram mais de 10 horas, o Sol estava com tudo! Fui acompanhada por Mulenga, Rose e Betty. La vai um registro da caminhada:


Quando chegamos, me deparei com uma casinha de barro, muito pequena mesma! A igreja era ali. O culto comecou la pras 10h30, com um louvor animado. Ainda que sem instrumentos, a harmonia daquele canto fez com que tudo ficasse muito lindo! Nao compreendi a grande maioria das musicas cantadas, porque era em Kiswahili, mas ainda assim foi muito bom estar ali!


Depois do periodo de louvor, Mulenga levou a palavra. Falou sobre perseveranca e que Deus tem um proposito especial para cada um de nos. Foi uma mensagem muito bonita e muito propicia. Aquelas pessoas realmente precisam de esperanca!


Durante o culto, uma menininha se aproximou de mim. Primeiro ela ficou me examinando, olhando para minha roupa, meu cabelo, meu rosto e tocando minha pele o tempo todo. Depois ela comecou a testar se eu era de verdade. Ficava abrindo meus dedos pra ver se eu sentia dor, tentou mil vezes colocar o dedo no meu olho, e puxava meu cabelo toda hora. Quando ela se convenceu que eu era de verdade, sentou do meu colo e por ali ficou um bom tempo, olhando pra mim e mexendo em tudo que eu tinha: o oculos, o relogio, a bolsa... Foi engracado!


O culto acabou tarde, 'as 13h15. Alem do louvor extenso e da mensagem de Mulenga, o pastor decidiu que tambem iria pregar. Na ida para a Igreja, eu nao tinha contado o tempo de caminhada, mas percebi que, para voltar, caminhamos 45 minutos.

 
Cheguei na base branca de fome, e preta do Sol. Mergulhei de cabeca em dois sanduiches de pao de forma, pra depois mergulhar de cabeca na cama! Acordei quase na hora do jantar...
Foi interessante a experiencia naquela igreja. De fato, a Casa do Senhor esta' onde o seu povo esta'. Apesar de ser o Rei do Universo, Ele se alegra com todo e qualquer esforco de adora-lo, mesmo que o templo seja so' uma casinha de barro...


Eu fico por aqui! Bom domingo pra voces, e nao percam a oportunidade de ir 'a Casa do Senhor hoje!

sábado, 14 de janeiro de 2012

Dia 8 - Malhando o biceps

Chegou meu primeiro fim de semana na base! Acordei 'as 9h sabendo que eu tinha uma dura missao pela frente: lavar roupa sem tanque e sem maquina de lavar. Eu adiei o maximo que pude, mas esse trabalho nao podia esperar nem mais um dia.

Acho que, por aqui, 'as pessoas tem a impressao que eu sou meio fraquinha, entao estao sempre oferecendo ajuda, me lembrando de ir pra sombra e tomar 'agua. E hoje nao foi diferente. Recebi varias manifestacoes de "solidariedade" em relacao 'a essa nova experiencia.Vez em quando passava alguem me elogiando, dizendo que eu estava indo bem, ou perguntando se eu queria ajuda.

Apesar de toda a mobilizacao, resolvi que faria sozinha. Separei tres baldes: um para lavar com sabao e outros dois para enxague. Sentei no chao sem pudor e em 2 horas fiz a melhor malhacao de toda a minha vida.

Na verdade, nem era tanta roupa assim. A Mulenga, por exemplo, lavou quase o dobro do que eu lavei em menos tempo ainda. Mas a experiencia valeu. Enquanto estava la', torrando no sol, fiquei grata pelo santo que inventou a maquina de lavar. O aniversario dele deveria ser feriado internacional!!!

Agora estou mais bronzeada, mais forte e com mais uma experiencia na bagagem. E' possivel sobreviver lavando roupa no balde! E nao so' isso... Quando a gente esta' feliz onde esta', nao existe situacao ruim. Tudo e' aprendizado e crescimento. E e' assim que tenho me sentido.

E la' vao as fotos...





Depois de passar a tarde com Mulenga em Machakos, cidadezinha a uns 40 minutos daqui, tive uma noite bem agradavel. Fui jantar na casa da Celia, a brasileira que mora aqui. Ela desenvolve um trabalho maravilhoso com criancas, e em outra oportunidade eu com certeza farei um post sobre isso... Foi bom falar portugues um pouquinho, conversar sobre coisas comuns a brasileiros e, claro, jantar com um tempero mais que especial!

Quero agradecer de coracao a quem se mobilizou para ajudar Mulenga. Estou doida pra correr pro quarto e contar que, do outro lado do oceano, tem gente sonhando junto com ela! Como dizemos por aqui em Kiswahili, "Asante, sana" - Muito obrigada mesmo!!!

Por hoje e' so'... Foi um dia muito bom, mas cansativo. Alem disso, aqui ja passa das 22h! Amanha o diario de bordo continua... Beijos!